domingo, 12 de setembro de 2021

Saudade

O vazio que sinto talvez seja dos problemas que tenho na minha cabeça, os físicos. Mas algo me diz que existe uma aliança fortíssima entre esses e os demónios que só eu conheço e que partilham espaço e tempo comigo, principalmente quando falo com eles. 

Algo me foi comendo aos poucos, ano após ano, segundo após segundo, e tudo o que resta é a carapaça do que já fui há muito, muito tempo atrás. Uma sombra do que poderia ter sido do lado direito, e do lado esquerdo um vulto pequenino preenchido pelo medo do que poderá ser.

Não sou o cliché do não sentir nada, do já não conseguir sentir frio ou calor ou emoções. Não, ainda não cheguei aí. Mas sei que o que sinto não é nem pode ser verdade, de tão frágil que é. Tenho frio a toda a hora e sinto que se uma aragem repentina me tocar, me irá desfazer em pó.

E como sei que já houve um bom momento em que estive bem, tudo sabe pior. Porque saber o quão leve era traz-me de volta o nojo de ser o que penso agora. É pior do que se não tivesse memória da alegria que era ser livre à minha maneira. Se fosse assim, ao menos não saberia tudo o que tinha a perder, se não sabia o que era ganhar.

No final, creio que está tudo relacionado com o meu cérebro e com a facilidade que tenho em me destruir. É o cérebro que me mata todos os dias mas que me mantém vivo. 

E no final sou só uma pessoa. Há limites.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

M.

O texto que se segue será preenchido por confusão abstrata e frases soltas. E embora me baste fechar os olhos para que a pessoa em questão me apareça à frente, não vou parar uma única vez para rever o que for escrevendo. 
Neste momento é-me incrivelmente importante encontrar a escrita que fui perdendo ao longo dos anos, e divagar sem rumo definido sempre me levou muito mais longe.
Sem mais demoras, obrigado por existires.



Tenho tanta pena de não conseguir escrever o que quero escrever.
De cada palavra que sai nunca ser a que devia ter saído. 
E todas as tentativas do texto perfeito acabam fechadas numa gaveta que eu cá tenho, apertadas e guardadas para momento nenhum. Apontadas para paredes que nunca serão mais do que isso.


Para quê escrever, então? Principalmente quando algo perfeito merece apenas a perfeição, que direito tenho eu de enterrar sentimentos reais em palavras ocas que não aguentam o peso dos arrepios que me dás?

são os olhos dela

 

Eu amo uma pessoa sem saber o porquê.
Tenho presa em mim a ideia do que me completaria e essa ideia tem a cara dela.
E no final do dia é tudo uma chapada invisível e amanhã é mais um dia nascido para dar lugar a mais uma noite.

Porque é difícil aceitar a possibilidade de gostar de alguém que conheço tão mal mas que quero tão bem.

Porque se está frio eu quero o teu calor e se está calor eu quero a tua língua, e seria tudo tão simples se fosses de mais perto. 

E aqui está ele, senhoras e senhores! Frases soltas porque a cabeça não lhe consegue estar um segundo concentrada e a desconcentração lhe dá tanto prazer!

...

Há sortes invisíveis e acho que és uma delas. 
Sem saber que te amo, sei que sim.
Sem saber se estarei contigo, sinto tanto que não.
E continuas a ser a mulher mais bonita que já vi e quando os meus amigos estão fartos de me ouvir falar de ti, eu falo um pouco mais.

Porque o que interessa não é o que se passará amanhã quando reler este texto e não sentir o que agora o sono me traz. O que interessa é o que estou a sentir neste preciso momento, prestes a escrever a palavra "certa".

Tal como tu.
A certa, só que sem certezas.

E o pior de tudo é o medo que sinto.
Não o medo de estar errado.
O medo de estar certo.

O medo de te beijar e de não querer beijar outra boca.


Para a M.
Com as minhas sinceras desculpas. Pela vergonha.