O vazio que sinto talvez seja dos problemas que tenho na minha cabeça, os físicos. Mas algo me diz que existe uma aliança fortíssima entre esses e os demónios que só eu conheço e que partilham espaço e tempo comigo, principalmente quando falo com eles.
Algo me foi comendo aos poucos, ano após ano, segundo após segundo, e tudo o que resta é a carapaça do que já fui há muito, muito tempo atrás. Uma sombra do que poderia ter sido do lado direito, e do lado esquerdo um vulto pequenino preenchido pelo medo do que poderá ser.
Não sou o cliché do não sentir nada, do já não conseguir sentir frio ou calor ou emoções. Não, ainda não cheguei aí. Mas sei que o que sinto não é nem pode ser verdade, de tão frágil que é. Tenho frio a toda a hora e sinto que se uma aragem repentina me tocar, me irá desfazer em pó.
E como sei que já houve um bom momento em que estive bem, tudo sabe pior. Porque saber o quão leve era traz-me de volta o nojo de ser o que penso agora. É pior do que se não tivesse memória da alegria que era ser livre à minha maneira. Se fosse assim, ao menos não saberia tudo o que tinha a perder, se não sabia o que era ganhar.
No final, creio que está tudo relacionado com o meu cérebro e com a facilidade que tenho em me destruir. É o cérebro que me mata todos os dias mas que me mantém vivo.
E no final sou só uma pessoa. Há limites.